
MINAS ESPORTE CLUBE, O MELHOR DA HISTÓRIA
30 Anos da Copa AMAJE
“É hoje, é hoje, é hoje!”
Do alto -falante do Posto Didi uma voz grave e firme convocava os jogadores e ao mesmo tempo ouriçava a torcida de uma cidade inteira.
Dos embalos de sábado à noite aos domingos das multidões e das fortes emoções!
Uma geração inteira vivia os tempos áureos da música, ao mesmo momento desfilavam suas calças jeans acima do umbigo, os penteados unissex e seus topetes entupetados de Trim. As meninas e suas indumentárias no auge da extravagância e o colorido das sandálias Melissa nos pés, já os rapazes com suas camisetas cavadíssimas e um tênis Bamba.
Uma verdadeira onda e o maior desejo era “tirar onda” nas famosas voltinhas ao redor da Praça e chamar a atenção das paqueras.
Um pouco mais tarde o “point” era o Cipó que depois da discoteca “dos passinhos” sempre finalizava a noite com as baladas, e agarradinhos os casais viviam o calor das paixões.
Por falar em paixões, os anos 80 e 90 foram marcados pela maior paixão do futebol Turmalinense, pois, para o final de semana tornar-se perfeito era preciso ouvir:
“é hoje, é hoje, é hoje”!
E rapidamente a notícia corria como um ponta esquerda e espalhava pela cidade inteira!
Vai ter jogo do Minas! Vai ter jogo do Minas!
O Minas nasceu de um campeonato realizado no final de 1981 e curiosamente depois de todos os times montados, deixaram de fora dois centroavantes, o Didi e o Nélio.
Não eram dos melhores, mas a paixão pelo futebol falava alto.
Então, cataram as “sobras” e fizeram o próprio time.
Com uma pitada de revolta até pensaram em batizar o time de “Renegados”, mas não, os torcedores dos maiores de Minas pensavam grande, assim o Nélio disse para o Didi:
“Seu Pedro, o nosso time vai se chamar Minas Esporte Clube”!
O Délcio do Vítor foi o primeiro presidente, o Fudega o treinador, Nego Filogônio o massagista e com um elenco ainda tímido o time disputou o campeonato sem sofrer nenhuma derrota.
O amor do Didi pelo futebol era contagiante e em pouco tempo o time completou a sua diretoria, que articulavam trazendo os melhores jogadores para o Minas.
Losma, Esparta, Juventus, Esperança e outros times da época já não seguravam seus melhores atletas, pois o sentimento de vestir a camisa do Minas tinha o mesmo peso de um profissional jogar na Seleção Brasileira. Era simplesmente um sonho!
O Minas começou a viajar por toda região e por onde passava era como um rolo compressor, desbancava os adversários com um futebol mágico.
Em casa, a bola rolava no mesmo local de hoje, só que na época o estádio tinha o nome de “Celso Murta” o famoso “Carecão”, conhecido assim por ser de terra.
Cercado apenas de arame e mesmo nos jogos que era preciso cobrar a entrada para cobrir os gastos, ninguém ficava de fora.
“Todos pelo Minas e o Minas para todos”, o espetáculo vai começar!
Mas antes era preciso colocar cordas demarcando os limites para a torcida que ocupavam todos os espaços possíveis, inclusive o coração de cada jogador fazendo um estádio inteiro pulsar com a mesma batida!
Os jogadores enfileirados saíam dos vestiários, atravessavam a linha da cal e uma chuva de fogos e fumaça tomava conta, o povo levantava em gritos e palmas, o show vai começar e será mais uma tarde incrível e inesquecível de Domingo.
A charanga sob a regência dos mestres Meião, Pés, Mauro do Álvaro, Juninho, Techa, Bujão, Ildeu e Alexandre ditavam o ritmo da partida, e acreditem, o Ênio levava um compressor de ar para soprar uma corneta, era muito barulho!
Na torcida, gente de todas as idades e lugares, inclusive das comunidades, como o Sr. Zé de Júlio que vinha a cavalo.
A torcedora número 1 eleita pelos jogadores era D. Nem do Zé Marreta, ela não perdia um jogo sequer!
Outro também que se rendeu aos encantos e seguia todos os passos do Minas foi o Minarte da Tratex.
Tão gostoso quanto vibrar com mais um gol do Minas era descascar e saborear o amendoim torrado do Jovino, para refrescar, a garotada rodava com os “chup – chups”. Ah, é impossível esquecer o cheiro e o sabor da pipoca do Zelão e D. Dica.
Voltando para o campo, mais uma vitória e Sr. Acácio Virgílio não precisava de alto – falantes para cantar “é mole prá nós molação, é mole prá nós molação”!
Depois do jogo a maioria seguia para o matinê do Cipó, só que dessa vez não seria preciso o Didi ficar monitorando à hora de dormir dos jogadores mais farristas!
O Minas colecionava uma vitória atrás da outra e com elas momentos sublimes e gols antológicos, um deles foi do Palito contra o nosso maior rival, a vizinha Minas Novas.
O goleiro Bocas saiu a bola dando um chutão, a bola viajou e antes que tocasse o chão do círculo do meio-campo, o Palito a devolveu com um voleio fantástico!
O Bocas voltava de costas para o gol, a torcida o gritava em desespero e quando ele alertou a bola já estava nas redes, golaço!
Santa Maria convidou o Minas para a inauguração de seu estádio e na chegada um clima desmoralizador para nossos atletas, que ouviram: “hoje vocês não vão comer poeira, vão ter que comer grama e mesmo assim vão perder”.
Ninguém comentou nada, foram para o jogo e literalmente comeram a grama, a bola e calaram um estádio inteiro, placar do jogo: 5 X 0 para o Minas, com o esfomeado Pôla marcando os cinco gols!
O Didi era paizão, irmão, filho, amigo e se permitia viver todas as emoções a flor da pele, o respeito e admiração dos jogadores para com ele traduzia-se em amor.
E claro, sempre tinha os momentos de descontração, e nada os impediam de aprontar com ele.
Um dia depois do almoço em Senador Modestino, os jogadores faziam o “kilo” na sombra de uma igreja, enquanto isso o Didi saía do restaurante acompanhado da comissão técnica e de longe avistou algo pendurado na maçaneta de seu carro, era uma coisa branca com uma faixa vermelha e pastosa.
Ele aproximou e mais vermelho que o líquido, furioso esbravejou: ”dessa vez vocês passaram dos limites, quem colocou este produto feminino aqui, ainda por cima usado?”
Os jogadores se seguravam até que um disse: “calma Seu Pedro, isso é apenas uma “maria mole” com ketchup!
Naquele momento todos se desmancharam nas gargalhadas, inclusive o Dárcio, um dos autores da pegadinha e futuro genro do chefe! Didi sorri, leva na esportiva e comenta: “essa foi boa, mas vocês me pagam!”
E com este clima amistoso a família Minas desbancava até os Juniores do Atlético Mineiro, Cruzeiro e seleções de ex-profissionais, só faltava um grande título para consolidar o ápice de uma geração de ouro.
A CONQUISTA DA COPA AMAJE
1990, a Associação dos Municípios do Alto Jequitinhonha organiza a Copa AMAJE, tão grandiosa que meses antes as rádios já anunciavam, até mesmo a rádio Itatiaia.
As cidades se preparavam e investiam alto com profissionais e até treinadores do gabarito do craque Natal.
O nosso Minas também chamado de seleção de Turmalina não entrou como favorito, mas todos sabiam que o time do Didi, João Mendes, Fudega, Nego Filogônio, Luis Teixeira, Amparo, Gia e Dr. Hugo era “osso duro” e muito duro de roer.
Na primeira fase as 17 seleções foram divididas em 2 chaves regionais, a arbitragem era do time visitante e nosso trio foi composto pelo lendário Deíto do Lavinho, seu irmão Toninho e o velocista Tanque.
O Minas passou de fase juntamente com a arquirival Minas Novas e seguiram nas fases de “mata mata” atropelando os adversários até as semifinais.
A qual, nossa vizinha despediu-se da copa perdendo para a seleção de Gouveia.
E o Minas teria como adversário umas das favoritas ao título, a temida seleção de Datas.
O primeiro confronto foi um “passeio” do Minas, 3 x 0 com direito a gol olímpico do Tamir.
No jogo de volta a nossa torcida vai em peso para Datas e as duas falanges partiram para o embate da classificação como se fosse uma guerra.
O jogo já começa fervendo com 2 x 0 para eles e com Minas descontando no final do primeiro tempo.
Momento em que um torcedor provoca logo quem, o Eduardo do Ló, que jogou água na cara dele, a faísca necessária para uma briga generalizada e sem precedentes.
Chutes, socos, tijoladas, trombone quebrado na cabeça, orelha pendurada, dedo quebrado, uma verdadeira guerra campal, detalhe, só os torcedores brigaram.
Foi preciso chamar o reforço de Diamantina. Resultado: o Minas classificado para a final, torcida e jogadores escoltados por mais de cem soldados.
A grande final iniciou-se no sábado ás 7 h da manhã com uma oração na Igreja da Matriz. Em seguida rumo a Diamantina, o palco da grande final contra a seleção de Gouveia.
Na chegada, o Jajá e amigos já estavam à espera e foram direto para o Batalhão, onde ficariam hospedados.
A cidade estava estampada com faixas de apoio ao Minas, e na concentração os jogadores surpresos com tantas reportagens.
No domingo o esquadrão alvirrubro segue para o estádio do Tijuco, é chegada à hora da grande decisão.
O cenário era de arquibancadas lotadas, a torcida meio a meio, e depois dos cerimoniais a bola rolou abrindo o duelo dos melhores para a batalha final.
Vale o título e a torcida do Minas grita e não para! Torce, grita e cala! É gol de Gouveia! No placar 1 x 0 para eles no primeiro tempo.
No segundo tempo a defesa de Gouveia estava soberana, a bola teimava em não entrar e o Minas precisaria tirar um “coelho da cartola”! “O jogo só acaba quando termina” e quando se trata de um celeiro de craques tudo pode acontecer.
Neste contexto, surge uma falta quase do meio campo, o nosso zagueiro Agnaldo ajeita a bola e solta um “pombo sem asas”, uma verdadeira “pedrada”, a bola foi direto no ângulo e antes mesmo dela cair nos fundos das redes, o Didi caiu desmaiado na lateral do campo.
A torcida enlouquecida vibrava com um dos gols mais bonitos já vistos naquele gramado! Enquanto isso o Didi foi atendido pelo irmão e médico do time, Dr. Huguinho, recupera e volta para seu posto.
Mas já não há tempo para mais nada, o título será decidido nas cobranças de pênaltis.
Todos os olhares voltados para o mesmo lado, punhos cerrados, tensão, emoção e pressão, um filme na cabeça e uma missão a cumprir.
O Tó pede para ser o primeiro a bater, pega a bola e segue em direção ao gol, o goleiro “catimba”, provoca, ele responde com a bola no barbante, depois o Eduardo também converte o seu.
O Minas não erra, o Minas não vai errar!
Eles tremem com nosso arqueiro Vanildo e perdem duas cobranças.
O Minas não erra, o Minas não vai errar!
Todo o enredo já estava escrito, os pênaltis vieram para multiplicar o “sofrimento” e a alegria do melhor de todos os tempos!
O Minas é campeão invicto da Copa AMAJE e coube ao capitão Palito levantar a taça e finalizar este capítulo de ouro do futebol Turmalinense!
E lá se vão 30 anos...
E para toda glória, mérito e honraria do futebol Turmalinense, a voz do amante do futebol anuncia e eterniza:
“É hoje, é hoje, é hoje”...
Os Campeões:
Em pé: Didi, Paulão, Palito, Jailson, Pôla, Agnaldo, Lêla, Vanildo, Tami, Nego Filogônio, João Mendes e Fudega
Agachados: Hamilton, Tó, Eduardo, Dêga, Diça, Éder, Dárcio, Machado, Ladim, Gia e nossa torcida nas arquibancadas.
Fizeram parte também: Amparo, Dr. Huguinho, Nélio, Luis Teixeira, Lado, Nelino, Ozéias, Dirceu e tantos outros que viveram o sonho de vestir a camisa do Minas.
Fontes: jogadores, diretores e torcedores
Foto: Augusto Frederico Antunes Guty
Publicação Original: Facebook Ity João A Abel.
Restauração de imagem: Marco Antonio Rozas
Secretaria de Cultura e Turismo
