O Peso do Nosso "Bom Dia": Quando a indiferença se torna um ato de agressão
- ANDRE TIXA ORSINE MATOS
- 29 de out.
- 2 min de leitura
Uma reflexão urgente sobre como a nossa pressa, o nosso poder ou a nossa frustração se transformam em feridas silenciosas na saúde mental dos outros.

Eu tenho observado algo que me preocupa profundamente, e sinto a necessidade de compartilhar. Parece que, na busca frenética por demonstrar autoridade, sabedoria ou simplesmente para "vencer" o dia, estamos nos esquecendo de ser humanos.
Estamos tratando pessoas como obstáculos. E isso está adoecendo todo mundo.
Penso no impacto diário das pequenas coisas: a falta de um "bom dia" genuíno, a ausência de um "como vai?" que realmente espera pela resposta, ou a incapacidade de desejar um "dia de trabalho abençoado". Isso parece pouco, mas não é.
O que mais me assusta, no entanto, é a forma como usamos os outros como "desaguadouros" para nossas próprias angústias. Se estamos frustrados, se o trânsito nos irritou, se o chefe nos pressionou, quem paga a conta? Muitas vezes, é o atendente do café, o colega de trabalho que só queria ajudar, ou o porteiro que está ali, cumprindo seu papel. Despejamos nossa ira em quem parece ser um "alvo fácil", alguém que, por hierarquia ou função, não pode revidar.
Usamos nosso pequeno poder para diminuir o outro. E não temos a menor dimensão do estrago que causamos.
Não sabemos o que se passa na vida daquela pessoa. Aquele funcionário que tratamos com rispidez pode estar lutando contra a depressão. A pessoa que ignoramos pode estar vivendo um luto silencioso. A nossa palavra agressiva, dita para aliviar nossa própria tensão, pode ser a gota d'água que faltava para quebrar a autoestima ou disparar uma crise de ansiedade em alguém.
Isso é o que eu chamo de "coisificação" das relações. Deixamos de ver pessoas e passamos a ver funções: "o caixa", "o subordinado", "o RH". E quando alguém vira uma "coisa", perdemos a empatia. A empatia real, aquela de sentir com o outro, não a simpatia superficial. E, como já refleti antes, a falta de empatia é o berço da crueldade.
Estamos criando ambientes tóxicos no trabalho e na vida, onde a boa prestação de serviços não nasce do cuidado, mas do medo. E ninguém é feliz ou produtivo vivendo com medo.
A verdadeira autoridade não se impõe com agressividade; ela se conquista com respeito. A verdadeira sabedoria não humilha; ela acolhe. A espiritualidade, em sua essência mais pura, nos pede para ver o divino no próximo, para praticar o cuidado.
Precisamos parar de agir no piloto automático, movidos pelo nosso próprio ego e nossas próprias dores. Precisamos entender que o bem-estar coletivo depende da responsabilidade individual de cada um de nós.
Deixo aqui minha reflexão final, como um chamado à realidade:
Antes de agir, falar ou até mesmo de se calar em indiferença, faça o exercício mais difícil e mais nobre de todos: coloque-se, de verdade e com toda alma, no lugar do outro. Talvez assim, a gente pare de ferir e comece, finalmente, a curar.
"Nunca tivemos tantas ferramentas para conectar o mundo e, paradoxalmente, nunca estivemos tão desconectados uns dos outros".

.png)