O tênis mundial acompanhou, ontem, o desabafo sincero do jovem tenista brasileiro João Fonseca, de apenas 18 anos, após sua eliminação na primeira rodada do Rio Open 2025. Em entrevista, o atleta admitiu que o fator mental foi determinante para sua performance abaixo do esperado, mesmo estando 100% fisicamente preparado. Seu relato traz a tona uma questão estrutural que afeta o esporte de alto rendimento no Brasil, mas principalmente uma fase importante do processo: a falta de preparação psicológica adequada desde a base.

Sabemos que o João está no começo de sua jornada e o mundo já se rende ao seu talento, vislumbrando o nascimento de um novo fenômeno do tênis mundial. Só vamos aproveitar o autoconhecimento para abordar o que na realidade não falta nele, mas que pela pouca idade, ainda está em formação.
No esporte de alto nível, o desempenho de um atleta é sustentado por quatro pilares fundamentais:
🎯 Técnico – Habilidade nos fundamentos da modalidade;
🏃 Físico – Condição atlética para suportar a exigência do jogo;
🏆 Tático – Inteligência para aplicar estratégias em diferentes cenários;
🧠 Mental – Controle emocional, resiliência e capacidade de decisão sob pressão.
Dentre essas quatro forças, a preparação mental se destaca como um divisor de águas entre os bons atletas e aqueles que alcançam o auge. No entanto, é justamente essa a área mais negligenciada na formação esportiva no Brasil.
O Déficit da Preparação Mental no Esporte Brasileiro
O relato de João Fonseca reflete o que acontece com milhares de atletas brasileiros que, ao darem os primeiros passos no profissionalismo, se deparam com um gap psicológico em relação a competidores de países com cultura esportiva mais desenvolvida. Enquanto o preparo físico, técnico e tático são trabalhados desde cedo, o aspecto emocional e psicológico costuma ser tratado de maneira secundária, muitas vezes deixando os jovens talentos vulneráveis em momentos decisivos.
O problema é ainda mais grave em regiões como o Vale do Jequitinhonha, onde o esporte é uma das poucas janelas para a redenção social e profissional. No entanto, a falta de investimentos na estrutura esportiva e na formação psicológica dos atletas cria um ciclo difícil de ser quebrado: jovens com potencial técnico e físico impressionantes acabam sucumbindo à pressão por não terem desenvolvido um estado mental resiliente e autoconfiante.
A Realidade do Vale do Jequitinhonha e a Lacuna da Autoestima
O contexto social e econômico do Vale do Jequitinhonha reforça esse desafio. Em uma região que vive de migalhas e favores, a baixa autoestima coletiva se reflete diretamente na capacidade de acreditar e sustentar o próprio sonho. Muitos jovens crescem com o sentimento de que o sucesso não é para eles, pois desde cedo são expostos a limitações estruturais e emocionais.
A falta de acesso a suporte psicológico no esporte de base agrava essa situação, pois os atletas não aprendem a lidar com:
A pressão por resultados e a frustração das derrotas;
O medo do fracasso e da cobrança pública;
A necessidade de manter o foco em meio às dificuldades financeiras e sociais;
A importância da disciplina e da mentalidade vencedora.
Dessa forma, o talento muitas vezes não se traduz em grandes conquistas, pois o bloqueio emocional impede que o atleta atinja seu potencial máximo.
AKA – Valemos pelo que Somos: Chamando Atenção para a Questão Mental
No AKA – Valemos pelo que Somos, essa realidade tem sido motivo de alerta há anos. O projeto, que utiliza o esporte como ferramenta de transformação social, percebeu que o fator mental é o maior entrave para o desenvolvimento de grandes referências esportivas na região.
Mais do que formar bons atletas, o AKA busca desenvolver jovens preparados emocionalmente para os desafios do alto rendimento. No entanto, a falta de investimentos e de apoio ainda limita o alcance dessa iniciativa. Para que mais talentos possam ser descobertos, lapidados e transformados em ídolos, é essencial que a preparação psicológica seja tratada com a mesma seriedade que o treinamento físico, técnico e tático.
O Sonho por Maiores Oportunidades
O depoimento de João Fonseca é um lembrete de que, no esporte, vencer não é apenas sobre ter técnica e resistência física – é sobre ter uma mente forte e preparada para lidar com os momentos decisivos. Se um atleta que já está no topo do ranking brasileiro sente esse impacto, o que dizer dos milhares de jovens que sequer têm a chance de desenvolver esse aspecto desde a base?
O sonho de revelar grandes nomes no Vale do Jequitinhonha não pode depender apenas da força de vontade individual. É preciso que haja um olhar mais atento para a saúde mental dos atletas, mais investimento em profissionais da área e, principalmente, mais oportunidades para que esses jovens possam competir de igual para igual com atletas de todo o mundo.
O AKA segue na luta para dar visibilidade a essa causa. Mas o esporte brasileiro precisa acordar para a importância da mente vencedora. Pois, sem ela, o talento pode até surgir, mas nunca se consolidará como uma grande referência.
Comments